domingo, 1 de maio de 2011

SOBRE URUBUS E SABIÁS...

O que aprendi no Evangelho e o "evangelho" que não consigo aprender...






Quando ouvi a mensagem do Evangelho, e me entreguei ao Senhor Jesus, algo ficou claro em meu coração:
O meu estado de pecador, a minha incapacidade de agradar a Deus e de viver uma vida de santidade, ainda que quisesse. Tal realidade me levou a uma crise: o que farei? Como poderei sair dessa realidade? “Sabemos que a lei é divina; mas eu sou humano e fraco e fui vendido ao pecado para ser seu escravo. Eu não entendo o que faço, pois não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário, faço justamente aquilo que odeio. Se faço o que não quero, isso prova que reconheço que a lei diz o que é certo. E isso mostra que, de fato, já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim é que faz. Pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo...Como sou infeliz! Quem me livrará deste corpo que me leva para a morte?” Rom. 7:14-18 e 24).

Mas a mensagem não terminou, ouvi a coisa mais incrível de todas: O Filho de Deus - Jesus Cristo, veio ao mundo e morreu em meu lugar, levando sobre si todos os meus pecados, enfermidades, dores e condenação (“Agora já não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão unidas com Cristo Jesus. Pois a lei do Espírito de Deus, que nos trouxe vida por estarmos unidos com Cristo Jesus, livrou você da lei do pecado e da morte. Deus fez o que a lei não pôde fazer porque a natureza humana era fraca” Rom. 8:1-3)

 Ele ainda, tirou-me da mão do diabo me trazendo para o seu Reino.
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” Col. 1:13 e 14)

 Eu, um pecador, me tornei filho de Deus e livre de toda condenação?
Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus”.  1 João 3:1 - parte a

 Como se não bastasse, ouvi que Ele perdoou o meu passado, me livrou de todas as maldições, e me tornou uma nova criatura. Isso mesmo! Uma nova criação de Deus, Ele me Gerou de Novo (Regenerar =tornar a gerar).

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Gal. 3:13-14

No meu coração, estava convencindo de uma coisa: zerou tudo! É recomeço (Jubileu), é graça (favor imerecido),  e era muito bom para ser verdade.
Procurei ver na Bíblia se era assim mesmo, talvez eu estivesse enganado, e me surpreendi mais ainda. Aprendi que isso é a essência do Evangelho, por isso é que são boas notícias. Entendi o que Paulo queria transmitir, quando dizia que não queria saber nada além de Cristo, e que a sua pregação era focada na Cruz de Cristo.


“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”. 1 Co 2:2

Entendi a importância da obra realizada na cruz, e porque Paulo falava tanto nela. Quanto mais me aprofundei, mais o Espírito Santo me conduziu para a simplicidade do Evangelho.
Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo” 2 Co 11:3

Entendi que os símbolos e festas do Antigo testamento, tinham um objetivo pedagógico da parte de Deus. O povo precisava aprender sobre Deus, seu caráter, seu plano para ajudar o homem a viver uma nova história (redenção). E isso se tornou possível por sua doação e amor providenciando um salvador: Jesus, nosso Senhor!

“A Bíblia, tratada alegoricamente, torna-se em massa mole nas mãos do exegeta. Sistemas doutrinários diferentes poderiam surgir dentro do esquema de hermenêutica alegórica (interpretação) e não haveria meio de determinar qual seria a interpretação verdadeira...O método alegórico ressalta o subjetivo e o triste resultado é o obscurecimento da Palavra de Deus”. ²

Compreendi que tudo era sombra, pois Jesus ainda estava no céu. Quando Ele desceu, as sombras já não importam, pois temos a realidade. Os símbolos e parábolas existem para nos ajudar a entender aquilo que é real, não para adorarmos símbolos, tampouco vivermos aficionados por eles, dando uma importância exagerada, àquilo que explica a realidade de Jesus e sua obra.
Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele, arraigados e edificados nele e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, crescendo em ação de graças. Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo principado e potestade; Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum, senão para a satisfação da carne”.  Co. 2:6-10 e 17-23 (O grifo é meu).

Lendo o Novo Testamento, me convenci da importância de Jesus e de sua suficiência. Não necessitamos de mais nada além de Cristo, por isso Deus desejou e permitiu, que todas as coisas se direcionem a Ele (“descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;” Efe 2:9 e 10). Tudo gira em torno de Cristo. Ele é suficiente!

Com Jesus aprendi sobre a oração: sua simplicidade e importância.

E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes.Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém!”. Mat. 6:6-13

Quebrando a religiosidade e complicações, Jesus ensina que a oração não depende de modelos humanos, de palavras difíceis e de fórmulas prontas. A oração deve ser um momento de intimidade, de conversa e de anelo pela presença de Deus. A oração de um justo (filho de Deus – Justificado pela fé : Romanos 5:1) é poderosa e eficaz e não precisa de adjetivos: Oração escatológica, oração profética, oração forte, etc. (“Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” Tiago 5:16).

O derramamento do Espírito Santo veio, sobre uma igreja que anelava por Deus, e que se ocupava em buscar sua presença (“Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” Atos 1:14).

Jesus não deu fórmulas, só mandou que ficassem ali até que do alto fossem revestidos de poder.
“Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder”. Lucas 24:49

“Os homens procuram melhores métodos, mas Deus procura melhores homens”.

Com a perseguição da igreja, Filipe, um diácono (Atos 6) vai parar em Samaria (Atos 8:4-8), e começa a pregar o Evangelho e expulsar demônios, tudo em nome de Jesus. Sem fazer mapeamento, demarcação de território, ato profético ou coisa parecida. Tem que complicar, pois o simples não vende, não dá status. Parece que tudo que aprendemos na Palavra, de nada vale diante das “revelações” especiais que algumas pessoas, “dizem” receber de Deus.

Creio que o mais simples estudante da Bíblia, sabe que não podemos estabelecer doutrinas, baseando-se em experiências pessoais:
“sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação;”. 2 Pedro 1:20
“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema”. 2 Pedro 1:8 e 9



Criam dificuldades, para vender facilidades.

 COISAS OCAS E SEM BASE BÍBLICA, MAS COM APARÊNCIA DE PROFUNDIDADE.
“Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas;” Judas 12

Parecem profundos, mas são rasos. Uma mistura de marketing pessoal, neurolinguistica, Nova Era, auto-ajuda e outros subterfúgios.

Recordo-me de uma estória de Rubem Alves que ouvi em uma aula de antropologia:

“Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvesse. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...
— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá” ¹.



            E infelizmente, me parece que estão nascendo mais urubus do que sábias...





























¹ Alves, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. O fim dos Vestibulares.
² Bernard Ramm, Protestant Biblical Interpretation (Grand Rapids: Baker, 1970) pp. 30-31.

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